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Diário de Notícias 04/05/2009http://dn.sapo. pt/inicio/ portugal/ interior. aspx?content_ id=1220006


Mãs e imigrantesSer mãe à distância
por DIANA MENDES

Saudades. Selma veio do Brasil, Maria da Roménia, Graça de São Tomé e Marilou das Filipinas. A vida destinou que hoje fossem mães à distância. O telefone e a Internet ajudam a manter o contacto com os filhos, mas não resolvem a saudade dos olhares, dos cheiros ou dos carinhos. Imigrar foi a opção para lhes dar uma vida melhor. Por isso, trabalham, duramente, sempre a pensar neles. Mas quem regressa a casa diz que a separação não compensa
Mais de 435 mil imigrantes viviam em Portugal em 2007. Grande parte deles, cerca de 195 mil, são mulheres. Vieram trabalhar para longe do seu país e viver no desconhecido. Mas muitas delas são mães que não podem trazer para cá os seus filhos, que ficam nos países de origem entregues aos avós, pais e outros familiares. Entre Portugal e os restantes países da UE, local de origem de 115 mil imigrantes em 2007 (dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), a distância geralmente não é tão grande como para os restantes 320 mil imigrantes provenientes, por exemplo, dos países de Leste, da Ásia ou da América Latina. Só do Brasil, trabalham em Portugal 66 mil pessoas, mais de metade das quais são mulheres. Mas é de África que nos chega a maior parte da mão-de-obra estrangeira (150 mil trabalhadores) . E a distância e o preço das viagens leva muitas destas mães a ter de suportar separações demasiado longas. E a viver cada dia com o objectivo único de voltar a casa .O DN falou com mães imigrantes de quatro nacionalidades diferentes que estão separadas dos filhos: brasileira, são-tomense, filipina e romena. Histórias de mudanças de residência em busca de uma vida melhor e que são sempre temporárias para estas mães, que se desdobram para voltar a casa ou para trazer para bem perto os filhos. Vão mantendo sempre o contacto. Conversam com os filhos pelo messenger na Internet ou pelo telefone, recebem fotografias da família e novidades por correio ou e-mail. As prendas dos dias especiais ficam ansiosas numa gaveta até à chegada da mãe ou chegam-lhe pela web, da mesma forma que as palavras que trocam com a família. Participar na vida dos filhos, mesmo à distância, permitindo-lhes perguntar coisas tão simples como: "Então como correu o dia?"
Graça Augusto veio de São Tomé para estudar Direito, em Coimbra. Logo no primeiro ano ficou grávida de Bruna Melissa, a filha que manteve a seu lado durante todos os anos da faculdade. Difícil. Mais difícil foi a decisão de fazer um mestrado depois da licenciatura e ter de a deixar com os avós paternos em Cabo Verde. "Fiquei sem bolsa de estudo. Era difícil trabalhar para nos sustentar e ainda ter de ir às aulas e estudar", conta. Depois de umas férias com os avós, concluiu que Bruna teria "mais atenção, uma casa e uma vida muito melhor. Não fazia sentido tê-la sequer numa casa alugada com mais estudantes". Hoje, Bruna tem seis anos e apenas vê a mãe (de 25) de ano a ano, nas férias. Com uma menina tão pequena, assume a dificuldade de acompanhar o dia-a-dia dela em Cabo Verde. "Eu tento, mas perco sempre tanta coisa", lamenta. O dia-a-dia na escola, os amigos que já tem no País e o convívio com os avós são partilhados ao telefone. E até já a ouviu a contar e a soletrar o nome em inglês. As prendas para a mãe e para o pai chegam através da Internet, "porque os avós fazem um scan dos postais" Infelizmente, há detalhes que não podem ser transmitidos pela tecnologia. "Sei que lhe estão a cair os dentes e imagino como é que ela está. É tão vaidosa!". Os telefones escondem os centímetros de altura que Bruna ganhou nos últimos anos, atitudes e mudanças de comportamento". Se tudo correr bem, logo que Graça termine o mestrado, vai voltar para o seu país ou para Cabo Verde. "Mesmo que não conseguisse voltar, ela vinha para cá este ano. Não consigo passar mais um sem a ter comigo."
"Vou regressar. O que ganho aqui não compensa a separação dos filhos"
A família de Selma Ferreira está espalhada um pouco por todo o mundo. O filho mais velho, de 25 anos, está no Brasil. Está perto do seu outro filho de 21 anos; o mais novo, de 19, está a estudar nos Estados Unidos e Selma veio em busca de uma vida melhor em Portugal. Um engano? "Só cá estou há um ano, mas vou regressar. O que ganho aqui não compensa a separação dos meus filhos", conta ao DN. Portugal agrada-lhe. Longe dos filhos, mantém perto de si o irmão que a acompanhou nesta viagem. Porém, a vida como doméstica apenas lhe permite poupar cerca de cem euros por mês. O único argumento para ficar seria trazer para cá o filho mais velho. "Ele chegou a vir cá, mas não gostou", diz com tristeza na voz. Dos seus passos faz parte uma estadia de sete anos nos Estados Unidos. Durante dois anos ainda viveu com ele, mas "não conseguia fazer dinheiro. Tinha de pagar a casa, a alimentação, a babá. Decidi que tinha de o mandar de volta para o Brasil". Apesar de a separação lhe tolher a voz, guarda em si a esperança de regressar para ele e para os Estados Unidos. "Ele está lá no liceu e quando se legalizar pode pedir também a minha legalização." É que há mais de um ano que mãe e filho não se cruzam. "Eu ligo todas as semanas e acompanho a vida dele. Ele está a viver com uma senhora que me vai pondo a par de ele. Está a tirar muito boas notas. E até conseguiu uma bolsa. Só que ficou sem ela porque eu não estava lá para assinar os documentos." Tal como as outras mães, espera falar com os três filhos neste dia especial. Mesmo que apenas os possa ver nas fotografias que tem nas suas mãos.
"Estou a trocar 'e-mails' com os professores. Dizem que o Mircia é muito inteligente"
Há mais de um ano que Maria Iancu está fisicamente separada do filho Mircia, de 16 anos. Mas quando o DN a contactou, a veterinária de 54 anos estava "a trocar 'e-mails' com a professora, com a directora de turma dele e com o meu filho . Estão a dizer-me que ele é muito inteligente, muito bom", frisa orgulhosa. Define-se como mãe-galinha e garante que acompanha todas as actividades dos filhos. E não há quilómetros que a impeçam. Depois de conhecer Portugal em férias, e de ter regressado para fazer um estágio em parasitologia, decidiu vir viver para cá. Em 2000, trazia consigo o seu filho, mas as saudades do pai, que está separado de Maria, foram a causa desta separação de muitos meses. "Tenho muitas saudades. Nem posso falar disso ou ainda começo a chorar...". Na casa que tem cá em Portugal, o quarto do filho está intacto. Maria só entra lá para o fotografar e filmar quando o filho lhe diz que está com saudades. "Ele tem saudades da minha comida, do quarto dele e da nossa casa, que tem muitas árvores e flores." Fora da câmara e do messenger, Maria partilha a vida com o seu marido português e com o seu outro filho, Paul, de 32 anos, que já tem uma filha. "Não podemos ter tudo, mas a minha mãe vai trazer o meu filho no final de Maio." Apesar de ter formação em medicina veterinária e em gestão e marketing, Maria trabalha a tempo inteiro na Associação de Imigrantes Romenos e Moldavos - Fratia - uma instituição que lhe permite viajar para a Roménia de vez em quando e reencontrar o seu filho. Em breve, daqui a muito poucos dias, serão as viagens à Roménia que os irão separar.
"Tudo o que os meus filhos conseguiram é glória deles"
Foi por vontade de Deus. Ou do destino. Ou dos patrões. Mas Marilou Durias já está em Portugal há 19 anos. Marilou é filipina e é mais estranha às Filipinas do que a outros países. Há 25 anos chegou a Israel e foi lá que, com o marido e os dois filhos, conheceu a patroa que a iria trazer para Portugal. O percurso foi um pouco diferente do habitual. "Os meus filhos vieram comigo e estiveram cá na escola, mas entretanto decidiram que queriam ir para as Filipinas." O filho Christopher chegou a trabalhar cá três anos. Já Katherine ainda esteve a tirar o curso de engenharia informática. Até que ambos os "destinos" mudaram: "Decidiram partir e tirar o curso de enfermagem nas Filipinas. E em simultâneo. "Já lá estão há quatro anos e agora querem voltar", diz a mãe sorridente. E não é para menos. "Já não os vejo desde 2007, que foi o ano em que se licenciaram", diz. A Internet e o messenger são as ferramentas mais utilizadas para manter a família em contacto... As saudades são muitas, conta Marilou. Mas no Clube das Filipas, a que preside, há dezenas de casos muito piores: "Conheço pais que não vêem os filhos há 12 ou 15 anos. Às vezes os filhos casam e os pais não vão ao casamento. Há até casos em que os pais preferem mandar o dinheiro da viagem aos filhos." À distância, Christopher e Katherine sentem-se acompanhados. Afinal quando a mãe não vai à Net, começam a cair mensagens de cobrança. E de saudade. "São muito bons filhos. Bons alunos. E eu estou descansada e confio neles. Tudo o que conseguiram é apenas glória deles", garante

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