A política externa do novo Governo...

A Pompa e a Pergunta

2 Outubro 2010

A recente visita do Primeiro-ministro Patrice Trovoada a Luanda, foi, a todos os títulos, uma demonstração de magnificência da arte de bem receber um visitante ilustre. Os anfitriões esmeraram-se e a curta estada do chefe do governo são-tomense na capital angolana, dificilmente virá a ser ultrapassada em pompa e solenidade.

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São de Deus Lima


A Pompa e a Pergunta


A recente visita do Primeiro-ministro Patrice Trovoada a Luanda foi, a todos os títulos, uma cabal demonstração de magnificência da arte de bem receber um visitante ilustre. Dificilmente o chefe do governo são-tomense será alguma vez recebido com mais pompa e solenidade.

E para que dúvidas não restassem, foi José Eduardo dos Santos, ele próprio, quem carimbou, com a sua presidencial presença, toda a narrativa daquele momento.

Essa narrativa, para quem quis ver, teve tanto de explícito, como de implícito.

Dezoito meses após a queda do seu efémero governo e na que foi a sua primeira e única grande entrevista à imprensa nacional como líder da oposição, Trovoada anunciou no programa televisivo ‘Em Directo’ um novo paradigma para a política externa são-tomense caso regressasse ao poder: não haveria parceiros estratégicos porque estratégicos são todos os parceiros. Se A ou B merecerem a classificação de parceiros estratégicos, interrogou-se Patrice Trovoada, aonde iremos então colocar C, D, Y e Z? Quanto muito, concluiu, haverá parceiros do coração, aqueles a quem nos ligam laços afectivos especiais. Estava dado o mote.

A 1 de Agosto, o ADI foi catapultado para a governação, saltando de 11 para 26 deputados. Patrice Trovoada estava de regresso ao poder pela mais legítima das portas: a das urnas.

Logo após a investidura do novo executivo, o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-embaixador em Angola, Manuel Salvador dos Ramos, convocou o corpo diplomático para enunciar a posição de cada qual no novo mapa das relações externas de São Tomé e Príncipe. Em África, o chefe da diplomacia são-tomense tabelou: Gabão, Guiné – Equatorial, Angola. Estava dito.

Mais tarde, em entrevista conjunta à RDPÁfrica e à TVS, o Primeiro-ministro deslocaria a ênfase para a necessidade de um maior dinamismo, de critérios mais rigorosos da parte santomense na definição da agenda da cooperação. “Não podemos pedir e esperar tudo de todos os parceiros e devemos também dar algo em troca”, afirmou judiciosamente.


Na sua recente deslocação a Angola, o chefe do governo são-tomense reiterou esta posição quando disse à imprensa ser necessário definir bem as áreas de parceria entre os dois países. Não foi porém esse o momento mais marcante das declarações públicas de Trovoada em Luanda, já que, do que foi dito em privado, apenas os deuses e semi-deuses estarão, concretamente, ao corrente. Equiparável ao clímax de um minucioso e perfeito filme em câmara lenta, o momento definidor aconteceu quando um jornalista dirigiu ao líder visitante esta simples e, aparentemente, cândida pergunta:

- Angola é um parceiro estratégico de São Tomé e Príncipe?


Assim interpelado, assim consigo próprio confrontado, Patrice Trovoada, o Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, respondeu:

- Angola sempre foi, é e será um parceiro estratégico de São Tomé e Príncipe.


Estava dito. E o lado visível do esplendoroso guião de Luanda ficou concluído.

Artigo originalmente publicado no «Correio da Semana» / 02.10.2010


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