Resposta aos estudantes são-tomenses em Cuba


Uma carta dos estudantes circulou na internet e foi publicada no Parvo

Após uma leitura cuidada achei que também podia dar uma contribuição: 

...

Acho que os jovens saotomentes que escreveram esta carta merecem uma resposta. Vou responder de acordo com o meu ponto de vista e tentando ser eu próprio, ou seja, o mais verdadeiro possível.

Antes de mais, devo apresentar-me. Chamo-me Mé-Chinhô Costa Alegre-. Sou jurista, tal como alguns de vós e regressei a Sao Tomé depois de uma experiência invulgar de estudo em Portuga. Classifico a minha experiencia invulgar porque também vivi naquele país, e sobrevivi, tendo em conta que não era bolseiro de nenhum organização, incluindo o Governo de Sao Tomé e Principe.

Tal como vocês eu envolvi-me na vida daquele país a tal ponto que me considero um deles, ou seja, não nego que também sou europeu, tendo em conta as influencias que ficaram...

Isso tudo foi para dizer que São Tomé e Príncipe espera por vós como saotomenses mas também como cubanos, como pessoas que vao trazer de Cuba o melhor e o pior daquele país, cada um na sua dose.

Eu vou agora falar de cada um e insisto neste ponto porque antes de serem um grupo são indivíduos isso porque há interesses pessoais, há projectos pessoais, há histórias pessoas e acima de tudo qualidades pessoais.

Depois vamos ao grupo. O grupo é feito dessas pessoas todas misturadas que vão tentar conciliar os seu interesses. Agora pergunto: será que quanto estiverem lá em São Tomé vão ser capazes de conciliar esses dois interesses antagónicos? Será? Eu vos desafio. Se conseguirem serão a segunda geração de ouro do século XXI.

Nesse aspecto devo alertar para o facto de terem existidos várias tentativas, várias gerações formadas por pessoas honestas e altruístas (ainda viventes! E não pensem que é uma espécie rara nas nossas ilhas!) que deram o seu sangue para construir a Nação São Tomense. Por isso, os grupos têm forte tendência a desvanescer e o vosso não será uma excepção. Daí o meu primeiro conselho:

CONSELHO 1.
Leiam muito. Cultivem-se muito e não deixem os vossos valores esvanecerem. Promovam debates construtivos de ideias e soluções em vez de se afundarem em discussões políticas sobre quem fez isso ou aquilo. Isso fica para depois.

Compreendi claramente as vossas preocupações acerca do futuro e a questão do problema dos postos de trabalho, isto é, a discussão sobre o problema que vocês constituem hoje: o que fazer com 200 quadros formados vindos de diversos países, com culturas académicas e sociais totalmente diferentes.

É verdade. Temos um problema de facto. No meu entender um problema inventado por ambos os lados. Primeiro do lado do Estado que não conseguiu planear a economia e o mercado de trabalho para aproveitar essas pessoas qualificadas que vão retornar. em segundo lugar, um problema inventado pelos estudantes que ainda estão apegados ao lema do estado Providência: O ESTADO TEM DE ME ARRANJAR UM LUGAR!!

Mas você está no seu perfeito juízo para exigir isso de um Estado como o São Tomense? Acho que não é a abordagem mais correcta. Primeiro porque o Estado assegurou uma formação que vai beneficiar a "ti" Sr. Dr. ou Sra. Dra. são vocês os primeiros que ganharam com o investimento que fez nas vossas pessoas. Bem ou mal, fez esse investimento. Pagou uma bolsa miserável mas pagou. Agora é melhor olhar a questão de uma outra perspectiva....

Então? sobre o problema. O que fazer quando os senhores regressarem?
É obvio que só um louco que é aceitaria ser enviado para ANGOLA TIMOR OU CHINA ( a China surge aqui em sentido figurado, mas quem pensa em Timor pensa em China).

Sabem, a maior tristeza nessa história é que o próprio Governo não sabe a falta que vocês fazem. mas vamos tratar disso aos bocados. Basta reter o seguinte:

1. Depois de ter o diploma um indivíduo graduado pode ir para onde quiser e trabalhar naquilo que quiser, até nas obras em Portugal.

2. A má notícia é que nenhum indivíduo licenciado tem experiência na área em que se formou. Portanto, se não tinha feito nada até agora, também não sabe fazer nada. Pura realidade.

3. Há necessidade, diria melhor, carência de quadros qualificados em São Tomé e Príncipe, tanto para o sector público como para o sector privado. Lembro-me de um concurso lançado recentemente por uma autarquia que teve muito pouca afluência...Acho que pensaram que o salário era baixo por isso não sei se é um grande indício...

4. Temos o GRANDE projecto do DWP- Porto de Águas Profundas. Será que as vossas competências não servirão para isso?

5. Temos a nova reforma fiscal em curso. Será necessário que existem técnicos oficiais de contas e Revisores Oficiais de Contas. Há trabalho, meus caros e os exemplos podem ser muito mais.

Por isso é melhor avançarmos para os dois conselhos seguintes.

CONSELHO 2

Formem uma associação que vos possa representar junto ao Governo e proponham a criação de um programa de Estágios Profissionais e o Programa de Formação Contínua denominado Centro de Excelência para o Desenvolvimento (é diferente do CIADP*).

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Este último é um repositório de contribuições dos são-tomenses que estão a desenvolver estudos de pós-graduação, mestrado ou doutoramento, e servirá de fórum de debate e reflexão sobre o nosso passado, presente e futuro. A forma mais simples de traduzir isso é através da criação de uma Universidade mas ainda é muito cedo. Aqui reside a resposta para aqueles que querem ainda continuar a estudar. Eu sei que o projecto bem explicado pode criar até 50 vagas para mestrados e doutoramentos.

Quem ficar nesta zona vai PENSAR São Tomé e Principe. Precisamos disso como o pão para a boca...

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O programa de estágios profissionais é um modelo de transição para o mercado de trabalho é aquilo que se designa por política activa de emprego.

Em termos simples.

O Governo ao nível da Administração Central do Estado e dos entes públicos autónomos como as empresas e institutos públicos abririam um total de 150 vagas para novos quadros que seriam formados nos locais de trabalho por um periodo de seis meses. Este programa é deve ser abrangente as autarquias locais e à Região Autonoma do Principe que também receberia estagiários. Acho que para ter uma abrangencia maior deveria incluir as empresas privadas.

O salário ou bolsa de estágio seria entre 3.500.000,00 a 5.000.000,00 dobras. No caso das empresas e da Administração Autónoma o fundo deveria cobrir entre 40 a 60% da bolsa, ou seja, a bolsa é comparticipada pela empresa, autarquia ou RA.

Isto não é nenhuma invenção e não é assim tão caso, dado que 150 estagiários custariam mais 5.600.000.000,00 (cinco bilhões de dobras para todo o programa, ou seja menos de 250.000,00 euros). Nada que não se consiga junto dos parceiros internacionais... como TAIWAN ou ANGOLA.

Desta forma todos ficariam na Terra mãe depois escolheriam o que fazer...pois já saberiam fazer alguma coisa, que aprenderam com algum esforço.

Em síntese, espero que a minha contribuição seja proveitosa e que a vossa revolução seja intelectual e de ideias sólidas e, acima de tudo, melhor que a Cubana.

Bem haja.

Bridgetown, 28 de Abril de 2009

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